quarta-feira, outubro 24

Metodologia inovadora na área de risco une modernidade e tradição


Pesquisador da CPRM participa de mestrado no Japão para o aperfeiçoamento de técnicas de gerenciamento de desastres


Apresentação do trabalho final do mestrado do geólogo Leandro Kuhlmann

Direto da Terra do Sol Nascente, o geólogo Leandro Kuhlmann trouxe para o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) conhecimentos sobre novas metodologias de análise de perigo e risco de inundação, que aprendeu durante o mestrado internacional oferecido pelo Instituto de Pesquisa em Políticas Públicas (GRIPS) em parceria com o Centro Internacional de Gerenciamento de Perigo e Riscos Hidrológicos (ICHARM) no Japão. Com apenas 14 alunos escolhidos de vários países do mundo, Kuhlmann foi o único brasileiro e teve a oportunidade de ter aulas com professores do Japão, Coreia do Sul, Rússia, Índia, dentre outros locais. 


Visando o fortalecimento da parceria com a Agência de Colaboração Internacional do Japão (JICA), que ocorre desde 2012, o programa de mestrado disponibilizou trabalhos de campo em estruturas de engenharia e instituições de gerenciamento de desastres em mais de 10 cidades no Japão. Além de visitas a escolas japonesas, a fim de unir a atividade profissional com o intercâmbio cultural.

A Assessoria de Comunicação entrevistou o pesquisador e pediu que ele compartilhasse alguns detalhes dessa experiência única. Confira a seguir nossa entrevista:


Medições de vazão e teste de equipamentos no Rio Shinano, cidade de Tokamachi.
1. Qual foi a sensação de ser escolhido para ocupar uma das 14 vagas do curso? Outros brasileiros também receberam a capacitação? 

Esse ano, eu fui o único brasileiro! Desde a criação do curso, somente outros dois brasileiros tiveram a oportunidade de participar, um era do Ministério das Cidades e o outro era do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD). 

A sensação de ser selecionado foi muito boa, mas significou também um grande peso por conta da responsabilidade que seria representar o meu país no outro lado do mundo. 


2. De que forma você acredita que essa experiência irá contribuir para o desenvolvimento do seu trabalho na CPRM? 

Mirante para observação de muros de proteção a tsunami e tempestade na cidade de Kōchi

Acredito que poderei contribuir com as metodologias de mapeamento de risco na CPRM, incorporando técnicas que foram aplicadas lá. Também aprendi bastante sobre as políticas de gerenciamento de desastres e sobre como as instituições equivalentes à CPRM se engajaram na elaboração de políticas públicas adequadas do ponto de vista técnico. Algumas parcerias foram sugeridas e podem ser criadas ou agregadas naquelas já existentes.






3. Fale sobre o seu projeto final. 

Na minha dissertação, eu apliquei uma metodologia de mapeamento de perigo e avaliação de dano potencial de inundação baseada em dados com disponibilidade nacional. O projeto foi inteiramente desenvolvido com softwares de código aberto, criados pelos próprios professores do Instituto. 

Partindo dos registros de chuva da Agência Nacional de Águas (ANA), eu calculei a distribuição de eventos extremos por frequência. Utilizando os eventos históricos, calibrei um modelo hidrológico com base na descarga dos rios e manchas de inundação, utilizando as chuvas para cada período de recorrência na simulação. Dessa forma, pude mapear as áreas de perigo. Depois, para cada mancha de inundação, apliquei um modelo de danos, baseado na generalização de pesquisas anteriores e na interpretação de registros de danos no Brasil. 

O resultado foi validado com registros oficiais de danos e obteve um desempenho melhor do que outro método alternativo que também foi testado. Todo esse processo pode ser aplicado em projetos de gestão de risco na CPRM, poderíamos até simular na mesma plataforma os efeitos das obras de intervenção. 

Turma de formandos

4. Quais foram as temáticas estudadas ao longo do mestrado? 

A programação abordou desde aspectos técnicos da gestão de desastres como estudos sobre o clima, hidráulica dos rios e inundações, transporte de sedimentos, modelagem de inundação, programação de computadores até um pouco sobre a história do Japão, sua economia e as políticas de gestão de desastres. 


5. Qual avaliação você faz do curso? 

Eu achei o curso excelente, nós tivemos aulas com grandes experts do Japão, Rússia, Índia, entre outros países; foi uma grande experiência e me mostrou o quanto ainda tenho a aprender. Os japoneses são realmente muito comprometidos e apaixonados pelo trabalho, com o tempo foram depositando muitas expectativas e esse comprometimento me inspirou a correr atrás dos compromissos.




6. Você comentou sobre algumas atividades que fizeram parte do curso como trabalhos de campo e visitas a escolas japonesas. Qual dessas lembranças mais te marcou? 

Minha experiência favorita foi em Kyoto, a cidade é muito bonita e lá muitas pessoas usam os trajes tradicionais na rua. Nós visitamos o primeiro complexo de túneis feito pelos japoneses sem ajuda europeia. Eles foram feitos para conexão do Lago Biwa até os canais de Kyoto e serviram para transporte, abastecimento de água e geração de energia. Além disso, visitamos também um aqueduto que atravessa um complexo de templos. 

Visita à Sala de emergência do Ministério da Terra, Infraestrutura e Transportes
em Tóquio e à uma 
escola japonesa

7. Conte um pouco da experiência cultural de viver no Japão. 

O Japão é um país incrível, a população é muito hospitaleira e calorosa. É um país que une tradição e modernidade, com templos e costumes preservados em meio a um ambiente moderno e tecnológico. O idioma foi a maior barreira, mas com o tempo consegui aprender o suficiente para conseguir aproveitar.

O geólogo teve a oportunidade de conhecer vários pontos turísticos do Japão, inclusive, 
o  Santuário Yasaka-Jinja em Quioto



Texto: Cibele Pixinine Batista
Fotos: Acervo Pessoal
Assessoria de Comunicação
Serviço Geológico do Brasil - CPRM
asscomdf@cprm.gov.br
(61) 2108-8400