Gráfico com a precipitação média mensal na Bacia Hidrográfica do Rio Xingu (1977-2006)
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De acordo com a engenheira
hidróloga da CPRM, Andressa Azambuja, o relatório contribui com uma melhor
compreensão dos processos que influenciam na precipitação e na sua
variabilidade espacial e temporal e, por consequência, na vazão dos rios da
bacia do Xingu. “Com isso, é possível avaliar disponibilidade hídrica da bacia,
realizar estudos de previsões e de simulação de cenários hidrológicos e
socioambientais, dentre outros”, destacou Andressa.
Segundo o responsável
técnico pelo projeto Sistema de Alerta Hidrológico na Bacia do Rio Xingu, o engenheiro
Regis Silva, a caracterização do regime pluviométrico da bacia auxilia
principalmente nos preparativos para as ações de defesa civil. “Uma vez
caracterizado que as chuvas ocorrem em um período bem definido, a preparação
para os eventos de cheia se torna mais eficiente e objetiva. Além disso,
conhecendo-se as oscilações quanto à ocorrência de El Niño e La Niña é
possível ter uma estimativa quanto à ocorrência de cheias ou
estiagens”, explicou.
Dados históricos e o regime de chuvas na bacia
– Os dados históricos sobre as
precipitações revelam que é na porção paraense (Médio e Baixo Xingu), que
ocorrem os maiores valores de chuva mensal de toda a bacia durante a estação chuvosa
que tem seu ápice no mês de março. Já o período com a menor média mensal é claramente
identificado na bacia, sobretudo, na porção mato-grossense (Alto Xingu), como
sendo o mês de julho.
Também foi observado que a
variação da precipitação ao longo dos meses é caracterizada pela ocorrência de
máximos durante os meses dezembro a março (Verão - Outono) e de mínimos nos
meses junho, julho e agosto (Inverno). O início do período chuvoso na bacia se
dá no mês de outubro, na porção entre Alto e Médio Xingu, e se desloca no
sentido Sul-Norte até a região do Baixo Xingu, estacionando no mês de maio.
Esta “marcha” da chuva na bacia do rio Xingu acontece devido à influência
direta dos dois grandes sistemas meteorológicos ZCAS e ZCIT afetando, da mesma
forma, o escoamento superficial do rio.
Influência do El Nino - No período de 2014 a 2016
foi observada uma diminuição na precipitação, sobretudo no ano de 2015, se
comparado à média histórica, o que se pode atribuir ao fenômeno El Niño. Nos
anos de 2015 e 2016 o El Niño foi de moderado a forte (índices 2.2 e 2.3) e,
provavelmente vinculado ao Dipolo do Atlântico Intertropical, também um
importante modulador do clima na Amazônia, pode explicar o motivo da diminuição
da precipitação na bacia do Xingu neste período, ou seja, na bacia do Xingu o
clima é influenciado pelos fenômenos que acontecem tanto no Oceano Pacifico
como no Atlântico. Regis Silva afirma que, em 2015/2016, de fato “foram
observadas vazões baixíssimas na bacia do Xingu, que prejudicaram inclusive as
atividades de navegação, pesca, abastecimento e a geração hidrelétrica”.
Estimativa de cheia e estiagem- Na CPRM são realizadas
estimativas de recorrência de chuvas intensas, por meio de uma análise
estatística, em que se pode prever a frequência de ocorrência das chuvas
máximas em certa localidade por meio do emprego das equações chamadas IDF que relacionam
a intensidade, duração e a frequência de ocorrência de um evento em determinado
período de retorno, usualmente calculado para períodos de retorno de 2 a 100
anos.
No caso da bacia do Xingu,
existe uma relação IDF que é a do município de Porto de Moz (PA). Portanto, com
base nas previsões emitidas por órgãos meteorológicos oficiais, seria possível
estimar agora para Porto de Moz se a chuva prevista para o próximo verão
estaria dentro da janela temporal (período de retorno) considerada para uma
chuva de grande magnitude. Isto é, a previsão da magnitude de chuva vem de
modelos meteorológicos, já o enquadramento desta chuva, quanto à sua recorrência,
cabe à equação IDF.