sexta-feira, agosto 17

CPRM no 49°Congresso Brasileiro de Geologia: conheça a importância dos minerais na saúde em entrevista com Cássio Roberto da Silva

Elementos químicos representados na tabela periódica que podem ser benéficos ou nocivos para a saúde.
Na próxima semana, o Serviço Geológico do Brasil irá apresentar seus trabalhos no 49° Congresso Brasileiro de Geologia. Um dos palestrantes é o geólogo Cássio Roberto da Silva, que vai falar sobre o tema geologia médica. Cássio fala sobre a avaliação de ocorrências de metais/minerais e sua relação com a saúde. Confira a entrevista:


Cássio Roberto da Silva.
Cássio, o que é geologia médica?
Geologia Médica é o estudo da interface das Ciências da Terra com a da Saúde, a distribuição, qualificação e quantificação dos elementos químicos que se encontram no solo, água, ar, poeira e alimentos, que são benéficos e/ou nocivos à saúde ambiental (aqui inclusos os efeitos/impactos em humanos, animais e vegetais).

E como esses elementos podem influenciar a nossa saúde?
O ambiente natural pode afetar nossa saúde de várias maneiras. A composição de rochas e minerais está presente no ar que respiramos, na água que bebemos e na comida que comemos.

Muitas vezes esta presença de minerais e oligoelementos (elementos com quantidade reduzida, mas indispensável) são benéficas, sendo até mesmo a única fonte desses nutrientes, como cálcio, ferro, magnésio, potássio e outros. Porém, os materiais geológicos podem causar problemas de saúde por insuficiência de algum elemento essencial ou excesso de outros nocivos, como arsênico, mercúrio, chumbo e flúor.

Ainda podem ser nocivas combinações gasosas ou abundância de partículas transportadas pelo ar, como é o caso de asbesto, quartzo, pirita, ou certos compostos orgânicos que ocorrem naturalmente.

Qual é o profissional que estuda esse ramo da geologia?
Não há habilitação especifica. Os profissionais que podem atuar em Geologia Médica são: médicos, biólogos, biomédicos, farmacêuticos, toxicologistas, dentistas, veterinários, geólogos, geógrafos, agrônomos, dentre outras áreas relacionadas às duas ciências.


Qual é a experiência da CPRM nesse ramo da geologia?
A partir de 2003, a Geologia Médica teve importante impulso na CPRM quando foi criado o Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica (PGAGEM) e a Rede Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica (REGAGEM).

O PGAGEM estudou alguns casos com excesso de determinados elementos como metais pesados na água nos estados do Ceará, Goiás, na cidade de Parintins-AM, no nordeste do Pará, além de analisar a água de rios e de abastecimento público, sedimento de corrente e solo em nove estados brasileiros.

Este trabalho detectou várias anomalias indicativas de potencialidade mineral e nocivas ao ser humano, como, por exemplo: os valores dos macro e micronutrientes em quantidades excessivas.

Já a REGAGEM é uma rede de discussão sobre a Geologia Médica, criada em 2003, sob a coordenação do Professor Bernardino Figueiredo da UNICAMP, que atualmente tem mais 80 pesquisadores cadastrados.

A partir de 2008, o Projeto Levantamento Geoquímico de Baixa Densidade no Brasil, em continuidade ao PGAGEM, foi criado para promover conhecimento sobre a distribuição dos elementos traço e compostos inorgânicos na superfície de todo o território brasileiro.

A CPRM iniciou mapeamento geoquímico sistemático, segundo os critérios e padrões do Mapeamento Geoquímico Internacional. Os produtos desse trabalho são os Atlas Geoquímicos do Estado do Ceará, da Bacia do Rio Doce (Minas Gerais e Espírito Santo) e da Bacia do Rio Subaé (Bahia).

Como esses estudos podem ajudar a fazer essa relação entre os minerais essenciais e nocivos aos seres humanos?
Vou dar um exemplo. Essa relação é efetuada através das análises dos indicadores geológicos, como sedimento de corrente, solos, águas, poeiras e alimentos correlacionados com as análises dos indicadores toxicológicos como, sangue, urina, cabelo, tecidos e unha. Assim, caso ocorra valores dos minerais e arsênio na água acima do permitido pelos órgãos de saúde ou se as pessoas ingerem essa água e se detecta valores na urina dessas pessoas, indica que as mesmas estão expostas ao arsênio.

A Geologia médica ainda não é reconhecida como atividade complementar pelo conselho de geologia. Como estão os avanços para esse grande acontecimento?

Realmente não há esse reconhecimento pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia – CREA, mas acreditamos que esse reconhecimento virá com o tempo.

Nossa preocupação é a transmissão desse conhecimento nas universidades, simpósios, congressos, mostrar a sua importância dessa integração de ciências visando o bem esta e segurança das populações.

Qual a relação entre a geologia médica e a prevenção ou cura de doenças?
Ao tomar conhecimento da água, solos, ar, poeira ou alimentos que contêm contaminantes prejudiciais à saúde, as autoridades são comunicadas. E ao diagnosticar que há determinada enfermidade ligada à exposição de minerais, os médicos/toxicologistas podem orientar as pessoas a não se expor mais a eles.

Um exemplo desse trabalho foram os estudos de alumínio na região de Araçuarí em Minas Gerais. Os estudos feitos pela CPRM detectaram valores elevados de alumínio na cidade e que 60% das pessoas estavam com o Al alterado no sangue. Esse fator pode causar o mal de Alzeimer e a osteoporose. Após o nosso trabalho, as secretarias estaduais e municipais foram acionadas para trabalhar com a sociedade.     

Geologia Médica é uma área recente da geologia que está em expansão?
Sim, a Geologia Médica esta consolidada no Brasil e também em todos continentes, principalmente entre os profissionais das Ciências da Terra. Infelizmente, entre os profissionais da saúde ainda esta incipiente.

No Brasil, as universidades têm disciplinas nos cursos de geociências - graduação e pós-graduação (linhas de pesquisas), em todos os congressos, simpósios regionais de geologia, semanas de geologia da graduação tem-se o tema Geologia Médica.

Ocorrência na década de 50 de bócio e cretinismo por falta de iodo na dieta alimentar, em Arraias-Tocantins.