Cânion do rio Poti localizado entre o
Piauí e Ceará
Santuário ecológico. Terceiro maior delta do mundo e único das Américas a
desaguar no oceano. Piscinas naturais. Centenas de dunas e mais de 70 ilhas num
litoral repleto de praias de águas mornas e cristalinas. Esses são alguns dos
atributos do Delta do Parnaíba, localizado entre os estados do Piauí e
Maranhão. A região tem atraído atenção de turistas e da imprensa internacional.
Durante
cinco dias, o geólogo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), José Sidiney
Barros, acompanhou a equipe de cinegrafistas e produtores explicando a formação
geológica e a importância de preservação da região. A iniciativa, mais do que
mostrar a beleza e importância do local, põe em evidência a atuação da CPRM na
região, e seu trabalho de levantar e caracterizar possíveis
sítios geológicos.
Barros explica que o rio Poti, maior afluente do
rio Parnaíba, esculpiu cânion que atinge
360 metros de altura na área de contato entre o cristalino (estruturas geológicas antigas, formadas na era
Pré-Cambriana e início da era Paleozoica) e rochas sedimentares. No
local, emoldurando o cânion, há gravuras rupestres confeccionadas em baixo
relevo, constituindo um dos mais importantes complexos de gravuras rupestres
das Américas.
Os geólogos José Sidiney Barros e José Milton de Oliveira Filho, ambos da Residência de Teresina, estudam e defendem a classificação do Cânion do rio Poti em um Geoparque, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Geólogo
Sidiney Barros explica a geologia local para a equipe japonesa
O
documentário será exibido em agosto no programa “Great Nature”, da TV
japonesa NHK.
Em entrevista ao
Informe CPRM, o geólogo José Sidiney Barros, que atua desde 2008 na região, explica a
importância geológica e a proposta de geoparque para região.
Informe CPRM: Qual a
atuação da CPRM para preservação da região?
José Sidiney: O projeto surgiu na
região em função da proposta de geoparque, tanto do Delta [Parnaíba], como do
Cânion [rio Poti]. Então, são duas áreas, de certa forma, exploradas pelo
turismo e receptíveis a problemas de degradação ambiental. São duas áreas muito
frágeis e que precisam de uma preservação maior. Nós fazemos os mapeamentos de
sítios e geossítios em que há o interesse geológico e também o interesse
turístico, já que o geoparque é baseado nos três pilares geologia, geoturismo e
educação. O rio é o principal bem da região, em termos de produção. Nossa
tentativa é produzir renda para a população da região através da proposta de geoparque.
Temos levantado esses geossítios, conversado com a população, governo estadual
e municipal, prefeituras e municípios envolvidos na tentativa de chamar a
atenção dos órgãos federais, estaduais e municipais para as belezas e
potencialidades da região.
O que levou a TV
japonesa a realizar o documentário sobre a região?
Eles
acharam interessante a área do Cânion do Poti e do rio Parnaíba porque eles
estão ligados à formação do Delta do Parnaíba. O Delta Parnaíba é o único delta
em mar aberto das Américas e eles têm a preocupação de explicar a formação dos
lençóis maranhenses que integram o Delta. E explicar como um aporte daquele
segmento forma um delta, de onde ele vem, qual a fonte, qual o meio de
transporte, qual a origem, qual a idade... São questões bases que o programa quer abordar.
Para chegar ao delta, eles tem que,
principalmente, conhecer o rio e ver a história geológica do Parnaíba e Poti.
Eles pretendem fazer uma nova viagem agora em março, uma nova pesquisa, a
primeira parte foi só um piloto, digamos assim... Mas, a gente vai descer o rio
Parnaíba até o Delta. Desde Jalapão, desde as Mangabeiras, das nascentes até o
desaguamento no oceano. Vendo, exatamente, essas características das rochas que
são erodidas, qual o afluente que fornece mais segmento para que eles possam
entender como esse sistema é mantido. Desde a formação, até os dias atuais.
Como foi a
experiência em campo com a esquipe japonesa?
A
maior dificuldade é o fato de eles não terem o conhecimento técnico de
geologia. O processo se deu pela maneira com que a gente traduziu essa
geologia. Mas, eles fizeram uma pesquisa profunda com as informações da CPRM e
nós tentamos mostrar a região, os processos, como a população convive e o que
podem extrair. Tem sido uma experiência interessante, temos tido uma boa
recepção da população e eles ficam cada vez mais encantados. Tanto que agora
estamos querendo ir para outras áreas aqui do Piauí, em outros rios, pois
estamos descobrindo coisas interligadas. Bom, estamos tentando fazer essa
amostragem pra levar o Brasil pra conhecer melhor essa região. É sempre muito
gratificante.
Qual a relação da comunidade
local com o Delta?
A
região é muito pobre. A maior dificuldade é o acesso. As estradas são muito
ruins, só carro tracionado consegue chegar lá. Um mês atrás nós tivemos
dificuldade de chegar em algumas áreas porque os riachos estavam cheios.
Tivemos que atravessar agarrados em madeiras, enquanto alguém puxava uma corda.
Os carros não puderam atravessar... Mas, a população não tem um conhecimento
muito profundo dessa potencialidade. Não tem essa infraestrutura, por exemplo,
de hotéis pra você ficar. A população tem esperança e gosta da ideia. Potencial
a região tem, o grande problema é a infraestrutura que não tem. A UNESCO requer
que haja uma estrutura para submeter ao selo de geoparque. A grande vantagem é
ter uma comunidade voltada para o meio ambiente e interessada em criar um
parque na região, para depois então
criarmos um geoparque.
Assessoria de
Comunicação
Serviço
Geológico do Brasil - CPRM
asscomdf@cprm.gov.br
(61) 2108-8400