Escavações, muros de pedras, canais de água e pinturas rupestres, considerados verdadeiros tesouros da Serra da Calçada, foram encontrados, na manhã dessa quarta-feira (2), durante expedição de pesquisadores à procura de um cemitério indígena. Os monumentos, que são da época do ciclo do ouro, comprovam a riqueza história e ambiental escondida na serra, que fica na divisa de Nova Lima e Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A vegetação rasteira, consequente do fogo que atingiu a serra há pouco tempo, facilitou o acesso dos ambientalistas a lugares que, embora fossem de conhecimento deles, nunca tinham sido visitados.
Em meio a matos e formações rochosas, cerca de dez cavidades foram localizadas. "Algumas delas são naturais, outras são resultado da atividade mineradora na região, feita pelos proprietários dessa terra no século XVIII", afirma Simone Bottrel, coordenadora da Associação para a Recuperação e Conservação Ambiental (Arca AmaSerra). Na parede de uma das cavidades, os ambientalistas viram pinturas rupestres, feitas há centenas de anos. No entanto, o biólogo Estevão Luiz Pereira Lima chamou a atenção para marcas recentes de depredação. "Aparentemente, alguém passou por aqui e fez riscos na rocha, comprometendo as pinturas que são do período da pré-colonização", diz.
Muros de pedras construídos por escravos também puderam ser observados em detalhes. Segundo a analista ambiental Jeanine Baraillon, que também participou da expedição, acredita-se que a área fosse usada como curral pelos fazendeiros. Outras descobertas foram os extensos canais feitos com pedras, utilizados pelos africanos e indígenas para abastecer as lavras de ouro e os habitantes da serra. "Já conhecíamos alguns desses canais. Ficamos impressionados como alguns deles são extensos. Pelo fato de a vegetação estar baixa, a gente pôde avistar novos canais, que até então eram desconhecidos", diz Simone.
Depois de duas horas de caminhada, os ambientalistas se depararam com um cercamento de pedras, que aparentemente é um indício de que haja um cemitério na Serra da Calçada. "Pelo que podemos ver, isso se assemelha muito a um túmulo", afirma Jeanine. Cautelosa, ela ressalta a necessidade de mais estudos para a comprovação. "Estamos fazendo suposições. Agora, precisamos do apoio de um arqueólogo, que dê continuidade às pesquisas. Se for comprovado que realmente se trata de um túmulo, essa será mais uma constatação de que a Serra da Calçada é, na verdade, um museu a céu aberto que deve ser integralmente preservado", defende. Segundo Simone, o local exato de onde o túmulo foi encontrado não pode ser divulgado. "Essa é uma descoberta muito importante, e algumas pessoas não têm noção da riqueza que representa. Se espalharmos onde ele está, corremos o risco de algum visitante depredá-lo", justifica.
A ambientalista garante que, embora o cemitério não tenha sido localizado, o trabalho não foi em vão. "Vimos coisas muito valiosas, que merecem ser estudadas mais a fundo". Ela diz também que pretende acrescentar as descobertas ao dossiê que já foi entregue ao Ministério Público, destacando as riquezas naturais e históricas da serra. O objetivo é que o relatório reforce a importância de transformar a região em monumento natural. Disposta a dar continuidade às buscas pelo cemitério indígena, Simone adianta que novas expedições serão realizadas até que mais túmulos sejam localizados.
Fonte: Hoje em Dia - MG