terça-feira, outubro 25

INB encontra nova reserva de urânio

A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) descobriu no interior da Bahia indícios de urânio com o dobro de concentração daquele extraído da única mina ativa do Brasil. A área fica na região de Caetité (BA), onde a INB já explora urânio. Embora os dados sejam preliminares, a estatal acredita que a reserva de Caetité dobrará de tamanho com novas descobertas.


"Na mina em operação em Caetité, o urânio tem 3 mil partes por milhão (ppm). Nas amostras que colhemos, o urânio tem 6 mil partes por milhão. No Brasil, nunca identificamos uma região tão rica quanto essa", disse o diretor de Recursos Minerais da INB, Otto Bittencourt. Se confirmada, a reserva poderá produzir o combustível para Angra 3 e para as quatro das oito novas usinas que o governo pretende construir até 2030.

As descobertas ocorreram há quatro meses. A primeira a encontrar pistas de urânio de alto teor foi a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), que trabalhava em parceria com a INB. A CBPM, que havia identificado 34 áreas com indícios na região onde está a mina, detectou 22 novos alvos.

A INB, então, escolheu dois desses pontos para cavar. Não precisou ir fundo. A cerca de um metro e meio, segundo Bittencourt, os técnicos pararam numa camada de rocha e de lá colheram amostras do urânio com 6 mil ppm.

Para detalhar a descoberta - saber, por exemplo, qual a extensão da área onde foram encontradas essas amostras e se em outros pontos o teor no minério é tão alto - a INB está preparando licitação para contratar uma empresa que faça a sondagem do solo. Isso significa perfurar cerca 100 metros de rocha com um equipamento com ponta de diamante que permite uma leitura mais precisa da riqueza encontrada no solo. Os novos alvos - termo usado pelos geólogos - estão na zona rural da região do município de Caetité, a 750 km de Salvador. A INB tem comprado de sitiantes as terras sob as quais pode estar a nova reserva.

"Pelo que já vimos, a perspectiva é de no mínimo dobrar o tamanho da reserva de Caetité", disse o diretor. Descoberta nos anos 70, a mina de Caetité é a única que produz urânio não só no Brasil, mas em toda a América Latina. A reserva medida, indicada e inferida é de 100 mil toneladas de urânio - das quais 80 mil consideradas garantidas. Esse valor inclui as 34 áreas já identificadas além da área da mina em operação. Se a promessa se confirmar, são os 22 novos alvos que ampliarão as reservas para 200 mil toneladas. Com uma vantagem: com minério que tem o dobro de teor, a INB gastaria os mesmos recursos para produzir o dobro de concentrado, diz o diretor.

O custo de produção do concentrado é de US$ 50 a US$ 60 mil por tonelada. A INB tem o monopólio no Brasil da venda de concentrado de urânio. Tudo o que produz abastece a Eletronuclear e (depois da fase de enriquecimento na Europa) alimenta as usinas de Angra 1 e Angra 2. O Brasil não exporta. As reservas totais de urânio do país são de 309 mil toneladas. Além das aproximadas 100 mil de Caetité, a reserva de Santa Quitéria (CE) tem 140 mil toneladas que deve começar a produzir em 2017; o resto está espalhado em quantidades menores pelo país. Em 2009, o Brasil produziu 400 toneladas de concentrado; em 2010, caiu para menos de 200 toneladas e este ano deve voltar para as 400 toneladas.

O achado na Bahia é resultado da retomada dos trabalhos de prospecção. "De meados dos anos 80 até 2007, a pesquisa mineral de urânio esteve quase desativada. As reservas de 300 mil toneladas eram mais do que suficientes para atender à demanda interna". Em 2007, o governo federal retomou o programa nuclear e estabeleceu, entre outras metas, terminar a construção de Angra 3, construir entre quatro e oito usinas até 2030 e ampliar as reservas e a produção de concentrado urânio. "Os últimos levantamentos do Serviço Geológico do Brasil indicam várias áreas com anomalias radioativas de urânio. É tudo novo, áreas que não conhecíamos por causa dessa desativação das pesquisas."

A INB pesquisa em diversos Estados, como Pará, Roraima, Ceará, Bahia e Minas Gerais. Bittencourt mostra otimismo. "Em cinco ou dez anos, o Brasil terá aumentado suas reservas para 1 milhão de toneladas, o equivalente às atuais reservas da Austrália."

Fonte: Valor Econômico