quarta-feira, junho 24

Geodinâmica pode ajudar a ampliar o conhecimento da geologia do Brasil, diz pesquisador

Carlos Eduardo Ganade de Araújo faz parte da nova geração de pesquisadores da CPRM  


Graduado em geologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com período de sanduíche na University of Columbia-Missouri nos EUA e doutorado em Geoquímica e Geotectônica pela Universidade de São Paulo (USP), com período na Universite de Montpellier e na Australian National University, Carlos Eduardo Ganade de Araújo é um dos expoentes da nova geração de pesquisadores da CPRM.  Ele ingressou na CPRM em 2007, e desde então vem contribuindo para a compreensão e evolução continental do Pré-Cambriano do nordeste brasileiro.

O geólogo vem atuando de maneira multidisciplinar nos temas relacionados à evolução crustal continental e construção de montanhas, com particular enfoque na Geologia Isotópica e Petrologia para a determinação da idade, fonte e taxas de processos tectônomagmáticos e metamórficos de alto grau. Desde 2008 é autor, co-autor e revisor de artigos científicos publicados em jornais e periódicos internacionais.  Este ano, com a reestruturação da Diretoria de Geologia e Recursos Minerais (DGM), assumiu a chefia da recém criada  Divisão de Geodinâmica (DIGEOD).

Em entrevista ao Informe CPRM, Carlos Eduardo explica a importância dos estudos de geodinâmica para o conhecimento geológico do território brasileiro. “Entender a formação, evolução, interação e sobreposição destes sistemas geodinâmicos é muito importante para o conhecimento geológico do Brasil”, afirma o geólogo. Ele acredita que evolução crustal e concentração de recursos minerais andam de mãos dadas.

 Ele faz ainda uma bem humorada analogia entre geologia e gastronomia: “Quando determinamos que um dado segmento da crosta brasileira foi estruturado a partir da construção de um arco magmático do tipo andino - como no oeste da América do Sul - sabemos qual o “menu” de commodities podem estar associado diretamente com este ambiente.  Segundo o pesquisador, essa informação é “crucial para os times que farão exploraçãomineral.”


Carlos Eduardo explica as atribuições da Divisão de Geodinâmica, que, segundo ele, irá trabalhar em parceria com as unidades regionais, prestando apoio no campo e na interpretação de dados. “A divisão terá um papel fundamental na carga analítica dos projetos que farão uso de determinações geocronológicas/isotópicas, bem como microanálise mineral, para entender quando e em que condições termodinâmicas um dado terreno evoluiu”, diz o geólogo. 


Confira a entrevista

Informe CPRM - Qual a importância dos estudos de geodinâmica para o conhecimento geológico do território brasileiro?

Carlos Eduardo - Os estudos de geodinâmica têm por natureza um caráter integrador, na qual uma vasta gama de informações geológicas, geofísicas, geoquímicas e geocronológicas são utilizadas para entender a formação e a evolução de um dado terreno. O território nacional apresenta um complexo e intrincado arranjo de ambientes geodinâmicos distintos formados em diversos períodos geológicos, desde o Arqueano - há cerca de 3.5 bilhões de anos - até o presente. Entender a formação, evolução, interação e sobreposição desses sistemas geodinâmicos é muito importante para o conhecimento geológico do Brasil, bem como para a indústria mineral.  

Informe CPRM - Conhecer e entender a dinâmica dos processos formadores da crosta pode ajudar a descobrir novas áreas mineralizadas?

Carlos Eduardo - A determinação do ambiente geodinâmico de uma dada região, bem como os processos formadores de crosta associados, devem ser entendidos como um guia exploratório de áreas mineralizadas de primeira ordem. Em outras palavras, evolução crustal e concentração de recursos minerais andam de mãos dadas. Por exemplo, se você vai a um restaurante italiano você tem uma ideia do menu que lhe espera. É provável que sua deliciosa lasanha bolonhesa esteja por lá. Quando se trata de recursos minerais a analogia funciona da mesma maneira em relação a ambientes geodinâmicos. Quando determinamos que um dado segmento da crosta brasileira foi estruturado a partir da construção de um arco magmático do tipo andino (como presentemente no oeste da América do Sul), sabemos qual o “menu” de commodities pode estar associado diretamente com esse ambiente. Essa informação pode ser crucial para os times que farão exploração mineral no segmento da crosta em questão. 


Informe CPRM – Quais serão as principais atribuições da Divisão de Geodinâmica?

Carlos Eduardo - A nova Divisão de Geodinâmica irá trabalhar em consonância com os projetos desenvolvidos nas unidades regionais, prestando apoio direto do campo até a interpretação de dados. A Divisão terá um papel fundamental na carga analítica dos projetos que farão uso de determinações geocronológicas/isotópicas, microanálise mineral, para entender quando e em que condições termodinâmicas um dado terreno evoluiu. Esses dados deverão ser integrados com os produtos geológicos, geofísicos e geoquímicos, existentes ou gerados pelos projetos, para a contextualização geodinâmica dos segmentos de crosta envolvidos.  Para que isso ocorra será necessário não só a integração entre a Divisão, os chefes de projetos e os gerentes de geologia e recursos minerais, mas também, a participação de outros especialistas da empresa, de outras Divisões e de outras partes do Brasil. A Divisão contará também com projetos próprios executados em nível nacional e que estejam alinhados com as aspirações da DGM.   

Informe CPRM - Quais características técnicas são requisitos para os profissionais que irão compor sua equipe?

Carlos Eduardo - A equipe ainda está em formação. Contamos com experiência da Joseneusa Rodrigues, que coordena a parte da geocronologia; com a Lynthener Bianca Oliveira e Fabiano Faulstish, que estarão colaborando para que o fluxo de trabalho nos laboratórios (internos e externos) esteja em dia. Outros pesquisadores já estão demonstrado interesse em participar da equipe. Creio que no futuro ampliaremos a equipe com especialistas em outras áreas cruciais para a geodinâmica, como a petrologia. 

Informe CPRM - É possível prever quais serão as contribuições da Divisão para a CPRM?

Carlos Eduardo - Espera-se com essa abordagem uma maior inserção científica nos produtos da DGM, trazendo visibilidade nacional e principalmente internacional da CPRM junto à comunidade geológica especializada.