terça-feira, outubro 21

Geólogo da CPRM descobre supermontanhas de 600 milhões de anos que podem ter impulsionado a evolução da vida

Amostra de eclogito, rochas metamórficas formadas
por alta pressão, coletado no Togo

O geólogo pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, Carlos E. Ganade de Araújo teve o artigo científico “Ediacaran 2,500-km-long synchronous deep continental subduction in the West Gondwana Orogen” publicado, quinta-feira (16/10), na revista científica Nature Communications. Carlos Ganade descobriu supermontanhas de 600 milhões de anos que podem ter ajudado na evolução da vida na Terra.


O artigo faz parte do doutorado que Ganade concluiu pelo Universidade de São Paulo (USP), este ano, com orientação do geólogo Umberto Cordani, e contou com a participação de pesquisadores da Austrália, França e da própria USP.

O trabalho descreve a descoberta de montanhas com magnitude próxima ao Himalaia, com base em rochas de alto grau metamórfico, em uma região que vai desde o nordeste brasileiro até a África Ocidental, em países como Togo e Mali.

Eclogito visto no microscópio mostra a presença de coesita,
 minerais de sílica de pressão mais elevada
Ganade coletou amostras de eclogitos, rochas de alta pressão que possuem uma mineralogia particular, que estavam na superfície do planeta, mas para que eles possam ter essa mineralogia particular precisam ter estado a pelo menos 100 km de profundidade, o que acontece por meio do processo de subducção continental (quando dois continentes colidem e um entra por debaixo do outro).

Carlos Ganade durante o período da pesquisa
A equipe de pesquisadores investigou pelo ponto de vista geotermobarométrico para saber a pressão e temperatura da formação dessa rocha e pelo ponto de vista geocronológico para saber a idade da rocha. Descobriram então que todas as rochas coletadas apresentavam a pressão elevada, indicando que elas estiveram à uma profundidade de pelo menos 100km, e todas têm a mesma idade, cerca de 610 milhões de anos.

Carlos falou sobre a pesquisa realizada após a coleta de amostras: “Usando dados da literatura, fizemos um paralelo com o que estava acontecendo no planeta há 600 milhões de anos. Um exemplo é o nível de oxigênio que cresceu exponencialmente, as formas de vida começaram a se tornar mais complexas.”

O estudo mostra que a formação de montanhas pela colisão de continentes teria uma importância fundamental, pois essa seria uma zona mais propícia para ser erodida, devido à instabilidade. Essa erosão, que gera sedimentos, teria jogado para dentro dos oceanos de 600 milhões de anos nutrientes que poderiam favorecer a evolução de seres multicelulares da Fauna Ediacarana.

Segundo Ganade, os dados obtidos também foram importantes para mostrar que as placas tectônicas da Terra, como conhecemos hoje, responsável pela edificação de grandes montanhas em zonas de colisão continental, podem ter começado somente há 600 milhões de anos, indicando que, provavelmente, antes desse período, não existiriam montanhas dessa grandeza na superfície da Terra.  
Equipe em campo

Dessa forma, o trabalho apresentado por Ganade, pode ajudar a entender a estrutura de montanhas que também se formaram por esse processo de subducção continental, como os Alpes e os Himalaias, que apresentam as raízes a dezenas de km abaixo da superfície, impedindo o acesso.


Para ver o artigo na revista Nature Communications acesse o link: http://www.nature.com/ncomms/2014/141016/ncomms6198/full/ncomms6198.html