Pesquisador da CPRM Felipe Mattos Tavares |
Identificar
as deformações da crosta terrestre e as estruturas resultantes dessa deformação
é parte fundamental das atividades de mapeamento executadas Serviço Geológico
do Brasil (CPRM) em todo o país. A geologia estrutural, ramo das geociências responsável por esta
investigação, é o tema de atuação do geólogo da CPRM Felipe
Mattos Tavares. Ele é um dos coordenadores da Sessão Temática Geologia Estrutural, Correlação Tectônica América
do Sul-África e Reconstrução do Gondwana no 49º Congresso Brasileiro
de Geologia. Na entrevista abaixo, ele fala sobre a importância da geologia
estrutural para descoberta de potencialidades minerais.
Quais os métodos de análises mais utilizados pela
geologia estrutural na CPRM?
A
geologia estrutural é o ramo das geociências onde estudamos a deformação das
rochas e as estruturas resultantes dessa deformação. É uma área que se faz
presente na maioria dos projetos que executamos, pois as estruturas são como o
esqueleto de qualquer área de trabalho. Estruturas podem ser, por exemplo,
vetores importantes para descoberta de jazimentos minerais, além de poderem
atuar em processos erosivos, migração de águas subterrâneas, deslizamentos de
terra, etc. As estruturas são como fractais, repetindo-se em diversas escalas.
Então, trabalhamos com geologia estrutural tanto na escala regional, a partir
da interpretação de imagens de sensoriamento remoto e aerogeofísica, como a
partir de trabalhos de campo e descrições de rochas ao microscópio.
Quais os trabalhos serão apresentados pela CPRM
sobre a temática Geologia Estrutural, Correlação Tectônica América do
Sul-África, Reconstrução do Gondwana no Congresso? Apresentaremos um trabalho, onde sou um dos
autores, sobre a Evolução tectônica polifásica do Cinturão Gurupi um
importante distrito mineral para ouro na divisa entre os estados do Pará e
Maranhão, onde as estruturas são um dos principais controles para entender a
distribuição dos jazimentos auríferos. Também apresentaremos o trabalho sobre
a Interpretação geofísica-geológica dos lineamentos estruturais do Arco
Magmático de Goiás (Arenópolis), Brasil Central, do colega Felipe Martins e
colaboradores, da SUREG-GO, área também com importantes depósitos minerais
estruturalmente controlados.
Existe algum produto finalizado recentemente na
empresa que será disponibilizado ao público no Congresso?
Disponibilizaremos
diversos produtos finalizados nos últimos anos na forma de um pendrive, bem
como será possível interagir com os produtos através de telas dispostas no
nosso estande.
Qual das províncias tectônicas da América Latina
é maior alvo de pesquisa mineral?
As
principais áreas produtoras de minério no Brasil são Carajás (Pará) e
Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais), ambas situadas em terrenos antigos
(arqueanos) intensamente deformados. O estudo da geologia estrutural nestas
áreas é fundamental para o entendimento da geologia e indicação de áreas
potenciais para exploração mineral.
Como a geologia estrutural facilita o estudo de
prospecção mineral?
A
geologia estrutural é um dos principais campos de conhecimento que suportam a
exploração mineral principalmente de metais base e ouro. Isso porque diversos
tipos de depósitos minerais são controlados por estruturas, ou seja, os
corpos de minério muitas vezes seguem uma zona de falhas, eixo de dobra, ou
respeitam um padrão de fraturamento específico.
Qual o panorama quanto à geologia estrutural da
CPRM nas áreas de relevante interesse mineral?
O entendimento
da evolução estrutural avançou consideravelmente em todas as áreas de
relevante interesse mineral, o que é muito importante. No entanto nosso maior
desafio ainda é o fato de termos poucos especialistas no tema. Nossa meta é
capacitar mais pesquisadoras e pesquisadores em geologia estrutural no nível de
pós-graduação.
O avanço do conhecimento sobre as semelhanças
geológicas entre a África e a América do Sul pode gerar a indicação de novas
potencialidades minerais no Brasil?
Sim,
especialmente para mineralizações de ouro. Já é sabido que uma das mais
importantes zonas produtoras de ouro do mundo o Distrito de Ashanti em Gana, no
passado se conectava com a região do Cinturão Gurupi e, possivelmente, com
outras zonas produtoras de ouro do norte e nordeste. Estudar as
"pontes" entre ambos os continentes e a reconstrução paleocontinental
são temas que podem ajudar a melhorar nossos modelos de prospectividade e a
indicar novas áreas potenciais.
A CPRM desenvolve alguma pesquisa sobre a
reconstrução do Gondwana?
A
CPRM atua apenas indiretamente nos projetos de reconstrução do Gondwana. Mas
nossos mapas de integração na escala regional são fundamentais para o
desenvolvimento dos projetos de reconstrução paleogeográfica de
supercontinentes.
Felipe Mattos Tavares possui graduação, mestrado e doutorado
em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É especialista
em geologia estrutural, com experiência em mapeamento geológico-estrutural
sistemático, no estudo de depósitos minerais tectonicamente controlados e de
controles estruturais regionais de distritos e províncias minerais. Ingressou
na CPRM em 2007, executando projetos de mapeamento geológico e de pesquisa
mineral nas regiões Norte e Nordeste, destacadamente na Província Mineral de
Carajás.
Assessoria de Comunicação
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