Pesquisadores brasileiros estão participando de
expedição inédita que vai realizar estudos ambientais na elevação do Rio
Grande, localizada em águas internacionais do Atlântico Sul, a mais de 1.500 km
da costa. A expedição faz parte do
projeto de geologia marinha, coordenado pelo Serviço Geológico do Brasil
(CPRM), com o apoio do Marinha do Brasil e parceria da Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI).
Victor Lopes, Mauro Souza,
Eugênio Frazão (chefe científico), Patrícia Reis Alencar Oliveira, Ivo
Pessanha, Vadim Harlamov e Clovis Coutinho Motta Neto
O grupo de cientistas embarcou no dia 23/4, no porto
de Itajaí, em Santa Catarina para uma um jornada de 20 dias, a bordo do navio
de pesquisa hidroceanográfico Vital de Oliveira, operado pela Marinha do
Brasil. O Navio é equipado conta com modernos equipamentos de pesquisa,
laboratórios e um veículo submersível não tripulado (ROV).
A expedição é uma nova etapa de coleta
de dados oceanográficos, geofísicos, geológicos e biológicos do Programa de
Estudos Ambientais para a Exploração de Crostas Ferromanganesíferas Ricas em
Cobalto na Elevação do Rio Grande (Proerg).
Em 2015, a CPRM a Autoridade Internacional dos Fundos Marítimos
(ISBA), órgão ligado à ONU,
assinaram o primeiro contrato do hemisfério Sul que tem duração de duração de
15 anos. O contrato garante direito exclusivo ao Brasil de pesquisar o
potencial mineral de crostas ricas em cobalto, níquel, platina, manganês, tálio
e telúrio, em um bloco de áreas de 3 mil km² na região.
O
geólogo da CPRM Eugênio Frazão, coordenador científico da expedição conta que o
objetivo agora é estabelecer uma linha base ambiental que vai “reunir
conhecimento suficiente sobre os ecossistemas associados às áreas de exploração
das crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto, para garantir antes de
qualquer ação antrópica, a sustentabilidade desses ecossistemas e a preservação
do meio ambiente”, afirmou.
O
coordenador executivo da Divisão de Geologia Marinha da CPRM, oceanógrafo Ivo
Pessanha, destaca a importância do protagonismo da CPRM em águas internacionais
com o Proerg, projeto estratégico para o governo, coordenado pela instituição. “Trata-se
do quarto contrato de crosta do mundo e o primeiro firmado no Hemisfério Sul de
direitos exclusivos, colocando o Brasil em um seleto rol de países que requerem
e estabelecem pesquisas em áreas internacionais”. Entre eles, Rússia, Noruega,
França, China, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.
Vital Oliveira atracado no Porto de Itajaí aguardando embarque para Expedição à Elevação do Rio Grande |
Desenvolvimento tecnológico
– A iniciativa estimula o desenvolvimento científico e a
criação de um parque tecnológico capaz de desenvolver novas tecnologias e
equipamentos de ponta para dar suporte aos trabalhos de pesquisa. A proposta da
CPRM envolve também universidades e a cooperação com outros países,
fortalecendo assim as relações internacionais, técnicas e científicas.
Capacitação de recursos humanos – A qualificação de profissionais
para atuar em águas profundas é outra aposta audaciosa. O contrato inclui o
compromisso brasileiro em oferecer oportunidades de treinamento para técnicos
de países em
desenvolvimento. A ideia é
fomentar a iniciação científica, a geração de conhecimento e a capacitação de
especialistas para que o país possa estar apto a pesquisar e explorar minerais
em águas profundas. Até o momento o projeto envolveu cerca de 80 pesquisadores
de diversas instituições e universidades.
Investimento - Nos últimos cinco anos foram
investidos cerca de R$ 60 milhões em pesquisas no Atlântico Sul. Esses
recursos vieram do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para
desenvolver o plano de trabalho previsto no contrato serão necessários mais de
US$11 milhões.
Aprovação da proposta brasileira – Aconteceu durante a 20ª Sessão
Anual do Conselho da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA),
realizada em agosto de 2014, em Kingston, na Jamaica, do qual participam mais
de 160 países. A proposta brasileira se destacou pela forte integração entre
meio ambiente e geologia.
Histórico - Resultado de 9 anos de estudos
da CPRM, que contou com a participação de equipe multidisciplinar das áreas
de geologia, biologia, geofísica e oceonografia. O projeto de geologia marinha desenvolvido pela
CPRM vai
aumentar o conhecimento estratégico sobre recursos existentes em águas
internacionais próxima à plataforma continental jurídica brasileira.
Considerado estratégico pelo governo, o projeto de
geologia marinha está inserido no Programa de Prospecção e Exploração de
Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial
(PROAREA), que busca identificar áreas de valor econômico e de importância
político-estratégica para o País na área internacional do Atlântico Sul e
Equatorial. Desde 2009 foram realizadas diversas expedições ao
Alto do Rio Grande para coleta de dados que envolvem
batimetria, gravimetria, magnetometria, filmagem do assoalho oceânico e
sísmico. Nesse período foram coletadas ainda 18 toneladas de amostras
geológicas numa área de 132.000 km2.
Elevação
do Rio Grande - A Elevação do Rio Grande é uma feição positiva do Atlântico
Sul, que alcança profundidades mais rasas que 1 metros de profundidade e é
circundada por assoalho oceânico com profundidades médias de 4 metros. A
Elevação do Rio Grande está além dos limites da plataforma
continental jurídica brasileira, ou seja,
está em águas internacionais, uma região conhecida como área considerada patrimônio da humanidade.
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