quarta-feira, março 27

“CPRM vai elaborar mapas geológicos em menos tempo”

Reginaldo Alves dos Santos explica estratégia de 
 integração de dados durante seminário 

De passagem pelo Rio de Janeiro, onde participou do seminário de geoquímica que reuniu pesquisadores da CPRM que atuam no programa de geoquímica da instituição em todo o Brasil, o chefe do Departamento de Geologia, Reginaldo Alves dos Santos explicou como será a estratégia de integração de dados geológicos, aerogeofísicos e geoquímicos, que visa tornar os produtos de cartografia geológica mais focados na descoberta de depósitos minerais. Além disso, segundo ele, a meta é reduzir o prazo para entrega de produtos de cartografia geológica, com a disponibilização, no prazo de um ano,  de mapas intermediários (Mapas Geológicos Preliminares), e elaboração de Mapas de Integração Geofísica-Geológica, para agregar valor aos levantamentos aerogeofísicos de alta resolução recentemente executados pela CPRM em grande parte do território nacional.  


O geólogo adiantou que essa estratégia já começou a ser utilizada em projetos-piloto de cartografia geológica na Bahia, Tocantins, Pará, Amazonas, Minas Gerais, Piauí e Mato Grosso do Sul. “Os primeiros estudos serão concluídos em agosto deste ano”, disse.  Santos destaca que 22% do território brasileiro já está mapeado com “geologia de qualidade”, nas escalas 1:250.000 e 1:100.000, e que a integração de dados busca alavancar investimentos em pesquisa mineral, na medida em que busca delimitar áreas potencias para mineração.

Segundo o geólogo, cerca de 90% do território nacional (embasamento cristalino) já estão levantados com aerogeofísica de alta resolução (magnetometria e gamaespectrometria), com espaçamento de 500 metros entre as linhas de voo. “Acreditamos que a interpretação desses levantamentos aerogeofísicos, integrados com os dados geológicos de projetos anteriores e atuais, pode gerar produtos no curto prazo, principalmente na Amazônia”, avalia. 

Confira entrevista:

Informe:  Na prática como será  essa integração de  dados geológicos, aerogeofísicos e geoquímicos?  

Reginaldo Alves dos Santos – Essa integração vai permitir a elaboração de mapas geológicos em menos tempo, e com maior objetividade. Na média, em dois anos vamos concluir dois produtos em nossos projetos de levantamento geológico. O trabalho será feito em duas etapas: no primeiro ano do projeto será elaborado um Mapa Geológico Preliminar, essencialmente factual, onde estarão incluídos todos os dados do campo e as análises petrográficas, após integração de trabalhos  anteriores com a interpretação de imagens dos diversos sensores remotos e da aerogeofísica. Assim, já teremos, após um ano, um mapa intermediário com legenda expandida, a ser disponibilizado ao público. O segundo ano do projeto inclui a parte mais interpretativa, com as análises químicas de rocha e as análises geocronológicas, concluindo-se com o mapa  final e o texto explicativo.

Informe: Quando e onde começa esse trabalho?

Santos – Já iniciamos uma série de projetos- piloto em diversos estados, entre eles Tocantins, Bahia, Piauí, Pará, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Eles foram iniciados em agosto do ano passado, e os primeiros produtos serão concluídos em agosto deste ano, quando teremos mapas preliminares disponibilizados para consulta no Geobank.

 Informe: Essa mesma metodologia será usada  na Amazônia?

Santos – Sim, porém terão prioridade na Amazônia os mapas de integração geofísica-geológica, na escala 1:250.000. Nós temos hoje cerca de 90% do território nacional (embasamento cristalino) levantados com aerogeofísica de alta resolução. Então acreditamos que, para agregar valor a esses levantamentos a curto prazo, a melhor estratégia é a interpretação desses levantamentos aerogeofísicos integrados com dados de fotointerpretação e de projetos anteriores,  e com atividades de campo concentradas apenas  em cheques de anomalias. Os mapas resultantes serão disponibilizados no prazo máximo de um ano, e servirão  para planejamento e seleção de áreas para novos projetos de cartografia geológica da CPRM. Devido às suas características, eles deverão ter boa aceitação pelos usuários da comunidade geocientífica e da indústria mineral.

 Informe: Qual é a avaliação que o senhor faz do conhecimento geológico do País?

Geólogo Reginaldo Alves durante entrevista 
para Informe CPRM
Santos – A partir de 2003, houve a retomada dos levantamentos geológicos no Brasil pelo  governo, paralelamente à execução de um ambicioso programa de levantamentos aerogeofisicos.  Hoje, nós temos mapas atualizados em cerca de 22% do território nacional com geologia de qualidade. As novas estratégias de integração de dados e  a elaboração de novos produtos vai ajudar a disponibilização mais rápida de informações geológicas para  alavancar os investimentos na área mineral.  Isso é algo que queremos acelerar.

 Informe: Quantos projetos de mapeamentos serão finalizados este ano?

Santos – Estamos concentrando esforços para que até o final do ano pelo menos 50 projetos estejam concluídos e disponibilizados  na página da CPRM, através de seu banco de dados corporativo (Geobank). Este ano o lançamento de produtos de levantamentos geológicos deverá ser recorde.

Informe: Como estão os levantamentos geoquímicos?

Santos – Finalizamos recentemente importantes estudos geoquímicos regionais no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e no Rio Grande do Sul. Nosso programa de geoquímica está selecionando áreas para desenvolvimento de estudos nas principais províncias minerais brasileiras. A nossa meta é coletar cerca de 100 mil amostras de sedimentos de corrente e de concentrados de bateia, principalmente na Província da Borborema, nordeste do Brasil, e também em Tocantins, no norte da Bahia, no oeste de Minas Gerais e na região amazônica.

Informe: Como a CPRM está preparando os geólogos da empresa para enfrentar esse desafio?

Santos – Reativamos o Centro Integrado de Estudos Geológicos (CIEG) de Morro do Chapéu, na Bahia, para reciclar e capacitar nossos profissionais.  Os geólogos que já estão na empresa estão passando por uma reciclagem de conhecimentos, inicialmente focados em cartografia geológica. Quanto aos novos geólogos que vão chegar com o novo concurso público - 100 novos geólogos vão ser contratados para atuar no mapeamento e na pesquisa mineral -, todos irão passar por um treinamento básico.  Em abril começa o segundo curso de reciclagem em mapeamento geológico no CIEG para 16 geólogos de diversas partes do Brasil,  e no próximo semestre  estão previstos mais dois cursos.

Informe: Que balanço o senhor faz desse seminário de geoquímica?

Santos – Esse seminário faz uma análise crítica dos procedimentos operacionais que vêm sendo utilizados neste tema, e propõe ajustes para otimização desses procedimentos. As discussões destacam a necessidade de maior integração da prospecção geoquímica com os dados de levantamentos aerogeofísicos, para agregar valor aos mapeamentos geológicos e aos estudos metalogenéticos e, consequentemente, levar à delimitação de áreas para pesquisa mineral, nossa missão principal.

Informe: Então, como  vocês estão definindo as estratégias?

Santos – A estratégia principal visa o melhor tratamento de dados multidisciplinares desde o início dos projetos, para tornar mais rápidos e objetivos nossos mapeamentos geológicos, sempre com o foco na identificação e delimitação de áreas potenciais para descoberta de novos depósitos minerais.  Paralelamente, formaremos grupos especializados em análise metalogenética, que atuarão especificamente na integração dos dados geológicos, geofísicos e geoquímicos em todos os projetos.  

Informe: Essa integração também inclui a área de pesquisa mineral da CPRM?

Santos – Sem dúvida. Envolve principalmente uma integração entre os departamentos de Geologia e de Recursos Minerais.  Mas, para que essa integração aconteça de fato, vamos unir forças para que essa relação seja consolidada desde o nível de departamento até a conscientização e motivação das equipes executoras dos  projetos. Vamos trabalhar juntos e os treinamentos vão acontecer também na área de pesquisa mineral.